quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

"Benefícios do tempo"

Eu o amei tanto, que no dia que descobri que ele me traiu, a dor foi física. Como se tivessem me decepado um braço. Sem anestesia...

Nem conseguia comer.
Por dias, fui tomada por uma tristeza tão profunda, que só um copo de suco era suficiente. Fiquei magra! Todo médico deveria recomendar essa dieta: "Sofra uma decepção enorme, e mantenha com exercícios"...

Achei que nunca mais fosse me recuperar. Eu queria dormir, e só acordar depois que tudo aquilo tivesse passado.

Aí a mãe, com sábio mantra herdado da Vó, só repetia: "-Calma filha... isso vai passar".

Foram necessários alguns meses repetindo para mim mesma o mantra na frente do espelho, para desatar o nó da garganta.

Três anos depois da separação, recebi um e-mail com o pedido de desculpas.

Eu li o e-mail. 

Eu já não sentia amor. E até a dor, acreditem,  já tinha passado. Aceitei as desculpas.

Só não vi lógica em nos tornarmos amigos. Questão de confiança... já tinha se quebrado.

Hoje, depois de ter aprendido a lição, eu sei que tudo vai passar. Tanto a dor de um coração partido, quando as alegrias da nova paixão. 

Por sorte, tudo na vida é efêmero. E, por ser assim, é só colocar a importância devida em cada situação. 

É preciso respirar fundo e ter calma. E confiar no tempo. Ele se encarregará de tudo.









terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"Das canções para te cantar"


Até Chegar No Mar

Trupe Chá de Boldo

Pra você que transforma brisa em brasa,
Fóssil em míssil.
Pra você que transforma rímel em rima,
Fuga em fogo.
Pra você que transforma linha em lenha,
Careta em carinho.
Pra você que transforma calma em chama,
Cama em caminho.
Pra você que transforma rambo em rimbauld,
Pouco em palco.
Pra você que transforma acordo em acordes,
A dor em roda.
Pra você que transforma heavy em leve,
Cansaço em canção.
Pra você que transforma em mim o que virá em verão.

Eu canto, meu amor, até chegar no mar.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Supernova

Porque dos nossos encontros, nascem supernovas...

E não há Aldebaran (a estrela, e não o Cavaleiro de Ouro) que brilhe mais, ou Sol que mais aqueça.

Nem estrela antiga que ainda se reflita no céu.

Dos nossos encontros, nascem supernovas...

E elas morrem, em toda despedida, em toda contagem regressiva do elevador...












quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

No tempo do "Pager"

Gostava do tempo do pager...

Lembram?

A gente discava para uma central, passávamos o código da pessoa que iríamos enviar a mensagem e ditávamos palavra por palavra...

Não podia enviar palavrão. Política da empresa.

Não podia nem insinuar palavrão. Sei disso, porque teve uma vez que tentei camuflar uma frase ditando "Ilha da Uta"...

Mas eu enviava um monte de mensagem bonitinha. Até trecho de música. 

Em um dia de muita inspiração, a atendente, depois de repetir minha mensagem, perguntou toda derretida se podia enviar a mesma frase para o namorado...

Eu expliquei que a frase não era minha, era do Fernando Pessoa. 

Ela então me perguntou se eu achava que ele se importaria se ela enviasse a frase para o namorado dela...

- Não amiga... ele não irá se importar... tenho certeza!

Ah, eu me divertia à beça na época do pager...







quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Dois esquisitos"

No meio da turma, éramos dois esquisitos.

Enquanto todos falavam de baladas, citávamos Augusto dos Anjos e Machado de Assis em nossas conversas. Passávamos longas horas discutindo sobre a fidelidade (ou não) de Capitu. Longas horas também gastávamos, argumentando sobre o charme do Wolverine, os poderes de Bob Esponja do Aquaman, o quanto a Vampirella era sexy e os motivos pelos quais eu não poderia ser a Zatanna. Eu sempre quis ser a Zatanna.

Ele me apresentou Neil Gaiman. Falava-me sobre Sandman, como quem conta histórias para crianças dormirem. Eu, sentada na garagem com as pernas balangando, ouvia com atenção enquanto devorava batata pringles.

Ele era nerd. Estereótipo perfeito. Com óculos e tudo.

Eu era eu. Com coturnos nessa época. Um pouco mais ácida que hoje. Indócil, como sempre. Mas a gente se dava bem.

Trocávamos sorrisos. E músicas.

Nos fizemos cds no melhor estilo "Rob Gordon". O que era um problema, porque eu adorava Rock, e ele era totalmente alternativo. Compensávamos com o mesmo apreço por Nick Hornby. 

Éramos amigos. Sucumbimos à friendzone. Nada brota no árido terreno da friendzone. Mesmo quando o Henrique contesta que "até no inferno há esperança". (Quando Henrique usou esse argumento, tive que lembrá-lo sobre o que acontece quando raposas se apaixonam por monges).

Éramos incríveis, mas éramos só amigos. E a vida sempre pede um romance.

Eu me apaixonei por outro. Ele se apaixonou por outra. Eu quase me casei com esse outro. Ele se casou com outra. E seguimos nossas vidas.

Mas não raras as vezes, sinto falta dele. Sinto falta das nossas conversas. Sinto falta do olhar por cima dos óculos reprovando meus comentários infames.

Sinto falta em dias como hoje, que recebi uma notícia ruim, e só preciso ficar sentada, com alguém do meu lado, dividindo um pote grande de sorvete de limão. Sem falar muito.

Hoje está sendo um dia difícil.

Parece que sinto falta dele, principalmente, em dias difíceis...







segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dia 02 de Dezembro...

Aprendi desde criança que a morte faz parte da vida. É um ciclo do qual não podemos fugir. Com um pouco de sorte, chegamos a envelhecer, mas isso só prorroga o inevitável. Sempre foi tão claro para mim, que nunca tive medo da morte.

A primeira vez que minha avó "parou", foi na minha frente. Ela estava fazendo fisioterapia em casa, e na execução de um dos movimentos, ela deu um grito, e parou de respirar. O coração dela parou de bater também. O fisioterapeuta foi rápido e começou com a massagem cardíaca enquanto eu ligava para o resgate. Eu não tive medo. Não me desesperei. Não me apavorei. Cresci raçuda, com a Vó e a mãe ensinando todo o tempo que a vida é coisa pra quem tem coragem. Ela voltou antes de chegar a ambulância. Tinha usado a primeira, das sete vidas que lhe cabiam. A Vó era uma gatinha. 

Quando a Vó faleceu, eu tinha certeza que não iria enlouquecer. Já tínhamos sofrido tanto com as complicações do Alzheimer, que nenhuma dor no mundo poderia ser maior. Eu tomei todas as decisões dolorosas do funeral. Escolhi o caixão. Certifiquei-me de que as flores não seriam as habituais, de defunto, e sim rosas brancas e gérberas coloridas. Não a vesti como o usual. Comprei um pijama, fofo, quente, para que ela dormisse o sono eterno. Teve até um pouco de poesia nisso tudo. Botei a moeda para o barqueiro, um terço nas mãos dela, e chorei. O "nunca mais" sempre tem um peso maior quando alguém morre.

Duas datas, todos os anos, me fazem pensar intensamente na Vó: meu aniversário, e o dela.
É uma saudade que chega, vezes apertada, carrasca, vezes fresca como uma brisa em dia de sol, que eu não consigo me conter.

Esse ano, na semana do meu aniversário, carreguei um pequeno terço dela comigo pra todo lugar. Queria senti-la perto. Perdi o raio do terço... (olha a vida dando um tapa na cara com lições brutas de desapego).

Hoje, ela faria 81 anos. 
Já engoli o choro duzentas vezes. 
Penso em tudo o que aprendi, e tudo o que a gente não teve tempo de viver.
Procuro em mim algo dela, e encontro só amor. Do tipo incondicional, raro e absoluto. 
Agradeço por isso.
Que todos tenham a sorte de viver um amor assim.

Sobre saudade, eu sei bastante.

Esteja em paz minha Veinha... a gente está se virando por aqui! 

*Cazuza na trilha, como não poderia deixar de ser:

"Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim"