segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sobre abrir-se...

A gente toma um tapa da Vida, e se deixa endurecer um pouquinho.
O tempo passa, a gente baixa a guarda, e quando abre uma janela, toma outro tapa.
Aí a gente caleja, e fica um pouco mais duro.
E a cada safanão, vamos nos endurecendo mais. Até ficarmos inacessíveis. Presos em carapaças que criamos para não sermos afetados.
Mas eu não acho que os "tapas" que a Vida nos dá, sejam para nos endurecer.
Muito pelo contrário.
Quando a gente pega o martelo e solta no côco seco, é para que ele se abra, e nos ofereça o que ele tem de mais doce. O que ele tem de melhor.
A cada martelada, o côco se abre mais. 
Eu acho que é isso que a Vida quer da gente. 
A cada pancada, que a gente crie frestas para que nossa doçura escorra. 
Eu sei que é horrível estar vulnerável.
Mas controle não passa de uma ilusão boba, que serve só para distração.
Abrir-se, para receber. Abrir-se, principalmente, para doar-se.
E perceber que é nessa troca que está felicidade que a gente não encontrava, por estarmos "protegidos", com medo de sofrer.






quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Amor é placebo

Amor é placebo. - não a banda, o fármaco!
Sendo placebo, cura. Ou não...
Simula a cura. Ou não.
Às vezes, cura de fato.
Para uma vida amarga, pequenas doses de pílulas de açúcar.

Amor é placebo. Mas, o que não é?
Um bom descongestionante sentimental à base de um desejo genuíno, que não cura. Mas que faz sumir os sintomas.
Respirar tranquilo, suave e manso. 
Estamos curados, enfim! Foda-se que não é para sempre. Nada é.

Amor é placebo. Você toma, e tem a expectativa da melhora.
O cérebro é o vilão. Os hormônios fazem o serviço sujo.
E você, ludibriado pelo seu próprio corpo, dorme feliz.

Amor via oral. Três vezes ao dia. 
Recitou duas poesias, e não teve nenhuma reação adversa.
Curou-se, antes mesmo de notar.

Para dias de coma emocional, Amor.
(750mg receitou o médico)

Amor é placebo. 
Placebo, vem do latim "placere".
Se não cura, agrada.

Amor é placebo. 
Placebo cura todas as dores. (Ou não)

Para doenças físicas, Amor.
Para doenças emocionais, Amor.

E o resto, só para distração.













quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sobre o cangote dele...

O cangote dele não é só um pedaço de pele branca, que vai da orelha até o ombro.
O cangote dele é, antes de tudo, meu lugar preferido de passeio.
O nariz, fingindo não saber o caminho, sai farejando como cão perdigueiro o cheiro dos beijos deixados outrora.
E quando os encontra, os repete... um a um.
O cangote dele é a minha Pasárgada. Meu vício primeiro, minha festa de São João.
No cangote dele me aboleto, e quando percebo, o riso já está solto, deixando os dentes a mostra.
Vontade que eu tenho é de ali fazer moradia. Acordar ali, ali adormecer.
O cangote dele não é só "pescoço".
É fruta madura, que dá vontade de morder. 
No cangote dele encontro paz. E uma felicidade estranha, serena, que me assossega a alma e o corpo trêmulo. 
Ele ri da festa que faço. Eu canto em silêncio a alegria que sinto.
O cangote dele é sonho.
É desejo quando estou longe.
E delírio quando estou perto.
O cangote dele é o um mundo novo, onde descubro todo dia um motivo para não querer ir embora. Cadeado invisível que me prendeu. 
E eu, já nem sei se quero mais me soltar...