Cheguei no prédio hoje e a boa vizinha estava regando as plantas com a mangueira.
Tempo seco, sem chuva... merecem também as plantas um afago e um carinho em forma úmida para saciar a sede.
Meus olhos brilharam.
Tudo o que eu precisava no sábado era uma oportunidade dessas para me realizar...*rs
Subi correndo, desci sem sapato.
Abracei-a... molhei os pés...
Quanta alegria.
-"Adivinha o que tem lá no fundo? O pé de pitanga está carregado... o de amoras também! Corra e veja se os passarinhos te deixaram alguma fruta"...
A vizinha sabe do meu gosto pelas pitangas do fundo do quintal do prédio.
Cheguei perto sujando os pés na grama. Grudei logo de cara na pitanga mais vermelha. Doce, vistosa, uma delícia só.
Pitanga, amora, pitanga, amora...
Gastei um tempo nesse revezamento de sabores.
Engraçado como a felicidade é simples.
Hoje mesmo dei-me conta de que meu celular recebe ligações, faz ligações, recebe mensagens, envia mensagens. Ah, tira foto... mas com resolução mediana. E só. Não suporta nenhum desses aplicativos maneiros, modernos. O Carlos disse: -"pombo correio feelings"...*rs
O celular moderno não me faz falta.
Mas o banho de mangueira nos dias de sol... Deus do céu, como a saudade aperta.
Comi um monte. Deixei só fruta verde no pé.
Na volta, mais uma passada na poça d'água. Abri mais a torneira. Espirrei água para todo lado.
Subo. Sento do lado da mãe para tomar café...
- "Estava falando com a vizinha?"
- "Tava comendo pitanga..."
Encosto a perna na mãe... a mãe olha e ri...
- "Tá toda molhada"
Ela sabia o que fui fazer lá embaixo. As mães sempre sabem dessas coisas.
Terminei meu café.
Bateu uma leve nostalgia. Até uma pequena tristeza.
A maioria das pessoas que eu conheço nunca entenderão o valor de um banho de mangueira.
Pobres tempos os nossos. Cada vez mais tecnologia, cada vez menos pés tocando o chão de terra.
Ah, se vocês soubessem do cheiro do manjericão daqui do quintal, certamente quereriam caminhar por esses lados...
A vida é isso. O que se sente com vontade...
