segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dia 02 de Dezembro...

Aprendi desde criança que a morte faz parte da vida. É um ciclo do qual não podemos fugir. Com um pouco de sorte, chegamos a envelhecer, mas isso só prorroga o inevitável. Sempre foi tão claro para mim, que nunca tive medo da morte.

A primeira vez que minha avó "parou", foi na minha frente. Ela estava fazendo fisioterapia em casa, e na execução de um dos movimentos, ela deu um grito, e parou de respirar. O coração dela parou de bater também. O fisioterapeuta foi rápido e começou com a massagem cardíaca enquanto eu ligava para o resgate. Eu não tive medo. Não me desesperei. Não me apavorei. Cresci raçuda, com a Vó e a mãe ensinando todo o tempo que a vida é coisa pra quem tem coragem. Ela voltou antes de chegar a ambulância. Tinha usado a primeira, das sete vidas que lhe cabiam. A Vó era uma gatinha. 

Quando a Vó faleceu, eu tinha certeza que não iria enlouquecer. Já tínhamos sofrido tanto com as complicações do Alzheimer, que nenhuma dor no mundo poderia ser maior. Eu tomei todas as decisões dolorosas do funeral. Escolhi o caixão. Certifiquei-me de que as flores não seriam as habituais, de defunto, e sim rosas brancas e gérberas coloridas. Não a vesti como o usual. Comprei um pijama, fofo, quente, para que ela dormisse o sono eterno. Teve até um pouco de poesia nisso tudo. Botei a moeda para o barqueiro, um terço nas mãos dela, e chorei. O "nunca mais" sempre tem um peso maior quando alguém morre.

Duas datas, todos os anos, me fazem pensar intensamente na Vó: meu aniversário, e o dela.
É uma saudade que chega, vezes apertada, carrasca, vezes fresca como uma brisa em dia de sol, que eu não consigo me conter.

Esse ano, na semana do meu aniversário, carreguei um pequeno terço dela comigo pra todo lugar. Queria senti-la perto. Perdi o raio do terço... (olha a vida dando um tapa na cara com lições brutas de desapego).

Hoje, ela faria 81 anos. 
Já engoli o choro duzentas vezes. 
Penso em tudo o que aprendi, e tudo o que a gente não teve tempo de viver.
Procuro em mim algo dela, e encontro só amor. Do tipo incondicional, raro e absoluto. 
Agradeço por isso.
Que todos tenham a sorte de viver um amor assim.

Sobre saudade, eu sei bastante.

Esteja em paz minha Veinha... a gente está se virando por aqui! 

*Cazuza na trilha, como não poderia deixar de ser:

"Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim"









2 comentários:

  1. Sinto muito pela sua dor, mas me conforto por ver o quão "raçuda" (como vc mesma disse) e forte vc é! Garanto que isso herdou dela tb!!! Mudando um pouco de assunto, mas aproveitando a postagem, quando escreverá um livro com essas suas histórias maravilhosas??? Já sabe que dou o maior apoio! ;)

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  2. Ô Chuca... você se lembra daqueles dias né?
    Haja peito pra caber tanta saudade...
    As histórias da Vó merecem um livro mesmo. Por toda a fibra que ela tinha. Dá orgulho sabia? Se eu for metade do que ela foi na vida, já me sinto zerando essa existência...

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