quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Dois esquisitos"

No meio da turma, éramos dois esquisitos.

Enquanto todos falavam de baladas, citávamos Augusto dos Anjos e Machado de Assis em nossas conversas. Passávamos longas horas discutindo sobre a fidelidade (ou não) de Capitu. Longas horas também gastávamos, argumentando sobre o charme do Wolverine, os poderes de Bob Esponja do Aquaman, o quanto a Vampirella era sexy e os motivos pelos quais eu não poderia ser a Zatanna. Eu sempre quis ser a Zatanna.

Ele me apresentou Neil Gaiman. Falava-me sobre Sandman, como quem conta histórias para crianças dormirem. Eu, sentada na garagem com as pernas balangando, ouvia com atenção enquanto devorava batata pringles.

Ele era nerd. Estereótipo perfeito. Com óculos e tudo.

Eu era eu. Com coturnos nessa época. Um pouco mais ácida que hoje. Indócil, como sempre. Mas a gente se dava bem.

Trocávamos sorrisos. E músicas.

Nos fizemos cds no melhor estilo "Rob Gordon". O que era um problema, porque eu adorava Rock, e ele era totalmente alternativo. Compensávamos com o mesmo apreço por Nick Hornby. 

Éramos amigos. Sucumbimos à friendzone. Nada brota no árido terreno da friendzone. Mesmo quando o Henrique contesta que "até no inferno há esperança". (Quando Henrique usou esse argumento, tive que lembrá-lo sobre o que acontece quando raposas se apaixonam por monges).

Éramos incríveis, mas éramos só amigos. E a vida sempre pede um romance.

Eu me apaixonei por outro. Ele se apaixonou por outra. Eu quase me casei com esse outro. Ele se casou com outra. E seguimos nossas vidas.

Mas não raras as vezes, sinto falta dele. Sinto falta das nossas conversas. Sinto falta do olhar por cima dos óculos reprovando meus comentários infames.

Sinto falta em dias como hoje, que recebi uma notícia ruim, e só preciso ficar sentada, com alguém do meu lado, dividindo um pote grande de sorvete de limão. Sem falar muito.

Hoje está sendo um dia difícil.

Parece que sinto falta dele, principalmente, em dias difíceis...







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