Uma semana toda, apaixonada por Drummond.
Parece que o descobri outro dia.
Talvez seja presente da idade reconhecê-lo assim, tão arrancador de delírios. A cada pequeno poema, um sorriso.
Como eu nunca percebi antes?
Amei Drummond essa semana, como o mundo ama Fernando Pessoa. E é certo que no mar de Drummond, tenha menos lágrimas.
Para dividir meu amor, cá deixo com vocês "Necrológio dos desiludidos do amor". Porque só a poesia é cura sem prescrição médica...
Um pouco de cura, para vocês...
Necrológio dos desiludidos do amor Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito. Do meu quarto ouço a fuzilaria. As amadas torcem-se de gozo. Oh quanta matéria para os jornais. Desiludidos mas fotografados, escreveram cartas explicativas, tomaram todas as providências para o remorso das amadas. Pum pum pum adeus, enjoada. Eu vou, tu ficas, mas nos veremos seja no claro céu ou turvo inferno. Os médicos estão fazendo a autópsia dos desiludidos que se mataram. Que grandes corações eles possuíam. Vísceras imensas, tripas sentimentais e um estômago cheio de poesia. Agora vamos para o cemitério levar os corpos dos desiludidos encaixotados competentemente (paixões de primeira e segunda classe). Os desiludidos seguem iludidos, sem coração, sem tripas, sem amor. Única fortuna, os seus dentes de ouro não servirão de lastro financeiro e cobertos de terra perderão o brilho enquanto as amadas dançarão um samba bravo, violento, sobre a tumba deles. |
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