quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ame Drummond

Uma semana toda, apaixonada por Drummond.

Parece que o descobri outro dia.

Talvez seja presente da idade reconhecê-lo assim, tão arrancador de delírios. A cada pequeno poema, um sorriso.

Como eu nunca percebi antes?

Amei Drummond essa semana, como o mundo ama Fernando Pessoa. E é certo que no mar de Drummond, tenha menos lágrimas. 

Para dividir meu amor, cá deixo com vocês "Necrológio dos desiludidos do amor". Porque só a poesia é cura sem prescrição médica...

Um pouco de cura, para vocês... 



Necrológio dos desiludidos do amor



Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles. 




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