quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Neta de primeira viagem parte II - O que minha avó me ensinou sobre as canções de Renato Russo"

Não abstraí Legião Urbana ainda.Mas a música que não sai da minha cabeça não é das minhas preferidas .É aquela que já cansou todo mundo : "Pais e filhos".
Quando minha avó mudou-se para minha casa o ritmo alterou-se um pouco.Tínhamos um bebê tamanho grande , mas ela ainda andava e se alimentava como todo mundo.Digo isso porque depois ela passou a se alimentar através de uma sonda naso-gástrica. Eram cuidados , mas nada muito além do que qualquer outro bebê normal , tipo criança mesmo , necessitava .De qualquer maneira , eu passava a maior parte do tempo em casa ajudando minha mãe.Fraldas , banho , papinha , era nossa rotina.
Vivia fazendo recusa de alguns convites porque achava muito trabalho só para uma pessoa.
Mas veio o casamento da Marina , minha amiga dos tempos de faculdade.E eu precisava ir.E fui.Apreensiva , mas fui.
Cheguei com o dia amanhecendo e as coisas haviam transcorrido bem durante a noite.Não eram nem 10h00 da manhã e eu já tinha pulado da cama.Tomei um banho , um café , e fui para a sala.
O fisioterapeuta chega e começa a fazer os exercícos com minha avó.Ombro , punhos , pés...
E enquanto eu estava sentada, assistindo os exercícios , minha avó grita...e pára!E não digo pára , de ficar paradinha , tipo estática.Esse "pára" é de parada cardio-respiratória.Ela tomba para o lado em seguida , já sem qualquer sinal vital.
Eu saquei que a coisa não estava nada bem , e o fisioterapeuta já começou com a massagem cardíaca.Dei um pulo e bati na porta do banheiro para que minha mãe se apressasse no banho.Ligo para a ambulância , muito contrariada , já que moro na rua do hospital que costumávamos levá-la.
Na hora botei na cabeça que aquilo tinha caontecido por minha causa.Eu tinha saído e aquilo só podia ser castigo.
Rezei...Deus , como rezei...e devo ter rezado tanto que deu até certo...*rs
No hospital conseguimos estabilizá-la e as coisas foram ficando bem.Depois de exames , indicativos de oxigênio e índices cardíacos conseguimos trazê-la para casa sem maiores preocupações.
Mas ficou a culpa.Aquela que continuava pesando na minha consciência e que desde então não me deixou.
A partir daí recusava praticamente todos os convites.Passei a viver enclausurada , e até mesmo quando o Marcelo descia apertava a campainha para o bom e velho café ficava reticente a aceitar.Não gostava de sair.Ficava tensa.
Passei a me dedicar totalmente àquela situação.Dedicar-me totalmente à cuidar da minha avó.Era minha prioridade de vida.
E foi a melhor escolha que fiz na vida.
A doença dela agravou-se de tal maneira , a ponto de não sabermos se nos próximos cinco minutos ela estaria conosco.Comparado com isso , o dia "amanhã" acaba tornando-se um futuro muito mais impreciso.
Entreguei-me de corpo e alma , e como recompensa , quando minha avó se foi , levou a minha culpa embora.Sobrou o amor incondicional e a sensação de que fiz tudo o que poderia ter feito.Ou quase tudo , já que às vezes até acho que poderia ter feito mais.
Onde entra o Renato Russo nisso tudo?
Na frase "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"...
Quando minha avó parou ali na minha frente essa frase fez muito sentido.
A vida não passa do agora.O próximo minuto pode ser um futuro que nunca acontecerá.
Essa foi mais uma lição que aprendi com minha avó.E divido com vocês para que não caiam na armadilha de achar que o tempo está disponível para quem quiser fazer uso dele.O amanhã não existe.É só ilusão boba para quem tem preguiça da vida.E o presente não tem esse nome à toa.



Um comentário:

  1. Disse tudo Jéssica.. é engraçado como sempre achamos que vamos resolver nossas vidas no amanhã...
    Demorei um tempo pra aprender isso.. e menciono uma experiência: guardei um remorso na cabeça por muito tempo, pois quando um grande amigo meu se foi.. eu pensei ele me ligou ontem e eu não disse não disse pra ele o quanto o amava assim como ele estava lá declarando o quanto eu era especial pra ele.. Remoia dia a após dia isso.. quando resolvi me abrir com a mãe dele e ela me disse não precisa falar.. ele sabia por tudo o que você fez por ele enquanto estava aqui, fica em paz.. Só assim consegui ficar em paz..
    Temos que viver o presente intensamente e quando queremos falar algo a alguém que seja dito... não guarde pra si...

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