quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"Histórias da pequena Jéssica - A menina e o pinto"

Minha avó era uma mulher especial.Sacou desde quando eu era criança o monstrinho que eu guardava dentro de mim , e ao invés de reprimí-lo , ela resolveu educá-lo.Começou fazendo uso de toda minha energia extra .Nas aulas particulares que ela fazia para alfabetização , me carregava junto.Logo , aos 4 anos eu aprendi a ler e escrever.Em vez de uma cartilha caminho suave , ela me distraía com livros de biologia.No centro comunitário do bairro , fazíamos aula de crochê e tricô.Toalhas e cachecóis eram o máximo que eu conseguia produzir.Mas já valia , porque ajudava a exercitar a paciência.Também foi nessa época que ela despertou meu interesse pela costura.Passava horas sentada comigo confeccionando roupas para minhas bonecas.
A única coisa que ela não conseguia domar era meu fascínio pelos pintos da vizinha.Calma , pinto bicho.Aqueles amarelinhos que saem dos ovos.
Havia um buraco no muro do quintal e os danadinhos acabavam escapando para o lado da minha casa.Eu sempre devolvia quase todos.Enrolava algumas horas antes de devolver o último.
Na rua onde eu morava passava um caminhão que recolhia garrafas em troca de pintos coloridos e pirulitos , e num ato desesperado e de muita comoção , para que enfim a vizinha parasse de reclamar , minha avó realizou minha grande vontade de ter um pinto.E esse enfim seria meu.Sem ter que devolver.E foi amor à primeira vista.
Eu sei que eu não desgrudava do pinto.Era meu grande parceiro.Dormia agarrada com o ele.E cuidadosa do jeito que minha avó era , enrolava uma flanela no bicho para que eu não me arranhasse.
Com tanto amor e bons tratos que recebia , o pinto cresceu , tornando-se um belo frango.É impressionante como um pouco de carinho faz um pinto crescer vistoso.
Mas esse apego todo e esse aperto todo fez o pinto crescer torto.Deve ter sido a flanela a grande culpada pelo crescimento do pinto nesse estado.E esse defeitinho dele o tornava pouco ágil.
O pinto caminhava sempre mancando , de forma desajeitada e sem nenhuma velocidade.
Numa tarde de domingo , enquanto botava o pinto para tomar sol , me distraí.O pinto tentou atravessar a rua para seguir minha avó , mas como era pouco hábil , acabou sendo atropelado.
O meu amado pinto morreu.Atropelado.E por minha distração.
Grande choque.
Todo mundo em casa tentou me explicar que havia um céu onde os pintos viviam felizes , que as almas dos pintos bons iam para lá e que meu pinto estaria bem .
Eu não queria saber disso.Eu queria meu pinto e pronto.
Enterramos o bichinho num terreno próximo.Com direito à cruz e dizeres.Com lágrimas nos olhos , proferi : "ele foi o melhor pinto que uma menina poderia ter em toda vida".
O mais triste da história é que algumas vezes , sinto muita verdade nessa frase , ainda hoje...*rs
O mais triste ainda foi descobrir , mais tarde , que aquele nem era o último pinto que eu veria morto...*rs
Só não achem que vou fazer a compreensiva por conta dessa minha experiência triste.Eu sei o que é ter um pinto morto.Mas também sei que com pinto morto não dá para se divertir...*rs

4 comentários:

  1. Hahahahaha! Dei cabeçadas no teclado de tanto rir!

    Alias, essa história do pinto desviado explica muita coisa!

    Cheers!

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  2. rsrsrs.. essa eu não sabia cresceu com um pinto torto e morreu de forma trágica.. Mas passa o ruim e encontrar outros pintos mortos hoje né.. faz relembrar o trauma de infância.. rs

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  3. Pergunta para minha mãe...*rs Ela vai te contar...

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