sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

" A despedida"

Depois de nenhuma briga, nenhum atrito, mas também, de nenhuma perspectiva de futuro em comum, decidiram que já era hora de cada um seguir o próprio caminho. Dizem que os grandes casais tem isso, planos de uma vida juntos. Com os dois, não era assim. Só havia uma vontade de estarem juntos.

Decidiram então, marcar um jantar de despedida.

Ele, comprou o vinho branco seco que ela adorava, para acompanhar a massa com frutos do mar que com tanto capricho escolhera no bistrô perto do trabalho.

Ela, preparou um pudim de leite condensado. Preparou também o cabelo, as unhas e passou o melhor perfume. Ela sempre achou que despedidas rendiam mais canções e poemas do que os encontros. E ela tinha razão... Comprou uma rosa para enfeitar a mesa.

Quando ela chegou na casa dele, já estava tudo arrumado. A mesa posta. Velas acesas em taças coloridas de champagne, improvisavam um castiçal. Ela sorriu, e colocou a rosa ao centro para enfeitar.

Ali sentados, conversando sem o medo do peso de uma palavra errada, sem estarem se seduzindo o tempo todo, sem a necessidade de serem perfeitos, arrancaram-se sorrisos, como nunca antes tinham conseguido. Estavam despidos da vaidade. O jogo tinha terminado. Estavam assistindo o último capítulo do sitcom do qual eram o casal principal. Já sabiam que tudo na vida era finito. Estavam fazendo do limão, uma limonada.

A certa altura do jantar, beijaram-se. Como nunca haviam se beijado. Beijaram-se como se fosse o último beijo. 

Entregaram-se um ao outro, como se fosse a última noite da vida deles. Renderam-se à exaustão. Abraçaram-se sem deixar espaço para as gotas de suor escorrerem pelos corpos.

E como a noite não dura para sempre, chegou a hora da despedida.

Os passos dela eram curtos, e nada apressados. Atravessou a sala com um nó na garganta. Salto na mão, pra não incomodar os vizinhos. Entrou no elevador com os olhos marejando. 

Ele continuara dormindo no quarto. Quando acordou, já não a percebeu pela casa. Pensou que enfim, estavam livres. Desatados. Como sempre estiveram, mas agora, de uma forma diferente.

Dois dias depois da despedida, ela recebe uma mensagem pelo telefone. Ela senta, respira fundo, lê e relê sem saber o que pensar. 
- "Eu acho que a gente podia se despedir novamente"...

Naquele mesmo dia, mais tarde, lá estava ela, passando o melhor perfume, arrumando os cabelos, escolhendo uma roupa no armário....

Ele dessa vez, tinha escolhido um Prosecco. Sabia do apreço da moça por comemoração com bolhas.

Jantaram. Abraçaram-se. Jantaram-se. Mais amor de sobremesa...

Desde então, já faz vinte anos que eles se despedem todos os dias...

E enquanto eles não acertam sobre o fim, a vida passa. E os dois seguem se despedindo, felizes!










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